sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sapatos de Crocodilo Australiano

Os Sapatos de Crocodilo Australiano



Luiz C. Rangel



A presente historinha, me foi contada por um velho e querido companheiro já aposentado, que jurou de mãos postas, ser a mesma inteiramente verdadeira, apesar de bastante hilária.

Lá pelos idos de 1955, Guaianás, um antigo inspetor da PRF, veio trabalhar no 7º DRF, onde por seus modos tranqüilos, educação e camaradagem, passou rapidamente a gozar da estima e da amizade de todos os companheiros lotados naquela unidade da Polícia Rodoviária Federal.

Apesar de mostrar-se sempre humorado, alegre mesmo, Guaianás confessava aos mais íntimos, uma grande frustração pelo fato de não poder fazer uma viagem a Portugal, terra de seus antepassados e onde ainda viviam alguns tios e primos, que não se cansavam de convidá-lo para uma visita, que por motivos alheios à sua vontade era sempre adiada.

Certo dia, ao saber que iria embolsar uns caraminguás ganhos na justiça (naquele tempo os governos ainda cumpriam decisões judiciais), o nosso amigo imediatamente iniciou os preparativos da tão sonhada viagem, que foi realizada pouco tempo depois, a bordo de um, à época, moderníssimo DC-4 da Panair do Brasil.

Na santa terrinha, Guaianás foi recebido com festa pelos parentes, fez amizades e, sobretudo, passeou muito, visitou museus, igrejas, cidades, freguesias e conheceu Lisboa "de cor e salteado", indo a adegas, restaurantes, casas de fado, tornando-se um verdadeiro "alfacinha" aproveitando ainda para fazer um verdadeiro "tour" pelo comércio local, onde ao visitar uma famosa sapataria, tomou-se de amores por um belíssimo par de sapatos confeccionados a mão, com legítimo couro de crocodilo australiano, que incontinenti, comprou por uma boa soma de escudos.

Passados os dias programados para sua estada no país, nosso amigo finalmente retornou ao Brasil e logo ao chegar, após contar as maravilhas das terras lusas, apressou-se em mostrar os lindos sapatos de crocodilo australiano, verdadeira maravilha, como não se cansava de frisar.

Foi aí que Guaianás percebeu o terrível engano de que fora vítima, pois o distraído balconista da sapataria havia colocado no pacote, dois sapatos do mesmo pé, ou seja, do pé esquerdo, o que fez o nosso herói ficar realmente chateado, tratando de imediatamente escrever aos parentes narrando sua desdita.

Em poucos dias recebeu carta tranqüilizadora, onde um primo afirmava que o comércio português era honestíssimo, corretíssimo, pois mesmo que demorasse um, dois, dez ou mais anos para voltar a Portugal, quando lá chegasse, os sapatos seriam com toda certeza trocados.

Três anos mais tarde, Guaianás retornou à terrinha e para seu espanto, admiração e alegria, os sapatos foram trocados com a maior das facilidades, tendo o vendedor se desmanchado em desculpas, gesto que só fez aumentar a sua paixão pelo país de seus antepassados.

Voltando ao Brasil, logo no domingo seguinte, iria participar do tradicional almoço realizado pela Casa do Minho e só para matar os patrícios de inveja, compareceria ostentando os seus lindos sapatos feitos à mão com o legítimo couro de crocodilo australiano.

Foi aí, que aconteceu a tragédia, a terrível e verdadeira desgraça. Ao retirar os sapatos da caixa e tentar calçá-los, Guaianás constatou que o gentil vendedor realmente trocara os sapatos, mas trocara os dois sapatos do pé esquerdo por outros dois, só que ambos do pé direito.

É mole ou quer mais...?

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